Título O Cuquedo - Autor(es) Clara Cunha, Paulo Galindro (Ilustrador)

Este livro, pela qualidade que apresenta recebeu a Menção Especial do Prémio Nacional de Ilustração 2008.
O Cuquedo está à solta! Mas... o que é o Cuquedo? Será um pássaro? Será um avião? Não! É uma lengalenga original e muito divertida.

SINOPSE:
Os animais de grande porte - girafas, elefantes, hipopótamos, rinocerontes - andam numa correria de lá para cá e de cá para lá.
Tudo isto porque chegou à selva o Cuquedo. O Cuquedo é muito assustador, prega sustos a quem estiver parado no mesmo lugar. Mas quem é o Cuquedo?
A surpresa está reservada às crianças que lerem este livro. O texto de Clara Cunha é divertido e engenhoso e as ilustrações de Paulo Galindro são magníficas, plenas de cor, ritmo e humor. O melhor é lerem-no em movimento, não vá o Cuquedo fazer das suas!


Fundamentação teórica


O desenvolvimento da Linguagem Oral

A construção da linguagem oral, assim como a construção do conhecimento, resulta de um processo de interacção entre o sujeito e o meio que o envolve.
            Para desenvolver a comunicação oral, o sujeito precisa de ter um ambiente social estimulador, um motivo e uma intenção de comunicar. A partir da intenção comunicativa as palavras são procuradas para representar as ideias, pensamentos e sentimentos. Ao recorrer ao vocabulário existe a necessidade de organizar tais palavras em frases, respeitando os aspectos gramaticais da linguagem.
            Desde os primeiros meses de vida, a criança já começa a discriminar e compreender a fala das pessoas que estão interagindo com ela. Prestam atenção na sua própria linguagem e na linguagem do outro, percebem o ritmo, as rimas, gostam de adivinhas e de brincar com os sons das palavras.
A escola pode e deve influenciar positivamente o desenvolvimento da comunicação oral, oferecendo-lhe um lugar de destaque na aprendizagem escolar. Assim, a linguagem oral deve ser estimulada como um meio para transmitir o pensamento e para descrever a realidade. O professor deve estar atento aos mecanismos de aquisição da linguagem da criança, avaliando como ela entende a linguagem que recebe e o que ela quer dizer quando se expressa.
A habilidade de explorar ludicamente as estruturas sonoras das palavras, o seu significado e padrões de entoação, proporciona à criança maiores possibilidades com o código oral e um melhor desenvolvimento no processo ensino – aprendizagem.
            O ritmo, a entoação e a musicalidade das palavras funcionam como reais possibilidades de despertar a criança para a comunicação, proporcionando-lhe sorrisos e gargalhadas, além de garantir o contacto com a oralidade de uma forma lúdica e descontraída.
            As crianças com dificuldades de aprendizagem podem ser beneficiadas através de actividades envolvendo a música, o ritmo. A manipulação lúdica das palavras contidas na letra da canção, identificar e reconhecer as rimas, as sílabas e os fonemas contribuem para o desenvolvimento da consciência fonológica, o que favorece o processo educativo.      
            Na estimulação da linguagem oral, a observação e a avaliação são fundamentais para detectar pequenos progressos e compreender os avanços linguísticos do aluno. À medida que avaliamos e conhecemos o perfil do aluno ou do grupo, é possível definir estratégias ricas e variadas, possibilitando com isso uma vivência agradável com as palavras.
           


A Decifração
“Desde o momento em que aprendi a ler, o mundo imaginário dentro da minha cabeça ficou adornado com constelações de letras. Elas não transmitiam sentido nem contavam uma história: apenas faziam sons (…) Era como se uma máquina se tivesse instalado entre as partes visual e cognitiva do meu cérebro para traduzir letras em sílabas...”
Orhan Pamuk (Istambul)

Todos reconhecemos que saber ler é uma condição indispensável para o sucesso individual, quer na vida escolar, quer na vida profissional.
A utilização da linguagem escrita na vida quotidiana é nos dias de hoje imprescindível, como facilmente constatamos. Torna-se indispensável saber ler fluentemente e escrever de forma eficiente para a realização de muitas das actividades diárias.
            Todos reconhecemos também que é esperado que a escola desempenhe um papel imprescindível na aprendizagem da linguagem escrita. Ao contrário da língua oral, que a criança adquire natural e espontaneamente no contexto familiar, o domínio da vertente escrita da língua exige um ensino explícito e sistematizado de quem ensina, o professor, e a vontade consciente de aprender por parte do aluno.
            O desejo de aprender a ler é expresso pela maior parte das crianças antes de iniciarem formalmente a escolaridade. De facto, se em Setembro perguntarmos a qualquer criança que vai ingressar no 1º ano de escolaridade o que é que espera aprender na escola, a resposta será, na maioria dos casos, aprender a ler. A vontade de aprender a ler esbate-se, muitas vezes, à medida que a aprendizagem da leitura se processa, passando a existir muitas vezes desmotivação.
A leitura é antes de tudo um processo de compreensão que mobiliza simultaneamente um sistema articulado de capacidades e de conhecimentos. Um mau início na aprendizagem desta competência provoca posteriores atitudes negativas em relação à leitura e uma diminuição de oportunidades no enriquecimento do vocabulário e no desenvolvimento de estratégias de compreensão do que se lê.
O ensino da decifração deve contemplar o uso de estratégias que visem o reconhecimento global de palavras e de estratégias de correspondência som/letra.
As actividades promotoras da aprendizagem da leitura devem ocorrer em contexto de leitura significativa para a criança e não como actividades mecânicas e repetitivas. Não separar as actividades de decifração do verdadeiro sentido da leitura: a Compreensão.
                       
            Estratégias a promover no ensino da decifração:
            • de reconhecimento global das palavras
            • de correspondência som/letra
            • de automatização da correspondência som/letra
            • de antecipação/chaves contextuais (Leitura de palavras em contexto)
            • de explicitação da relação entre consciência fonémica e capacidade para ler palavras
            • de leitura de unidades ortográficas, indutoras da regra

Consciência Fonológica
“Capacidade de identificar e manipular as unidades do oral, tais como a sílaba, as unidades intrassilábicas e os sons da fala que a estas se associam”
Maria João Freitas, Dina Alves e Teresa Costa (2007)

É importante que existam pré-requisitos na área da oralidade e nomeadamente no desenvolvimento da consciência fonológica para que a aprendizagem da leitura e da escrita seja bem sucedida.
Neste sentido uma etapa importante, é analisar a produção oral dos alunos, do nível fonológico ao discursivo, com o objectivo de detectar eventuais desvios e de identificar insuficiências, planeando então actividades direccionadas para os problemas detectados.
Os aspectos fonológicos mais relevantes para o sucesso no desenvolvimento de competências de leitura e de escrita são a identificação de fronteiras de palavra, a aquisição do inventário de sons e a organização dos sons nas sílabas.
Fazer corresponder um som da fala a um grafema é uma tarefa difícil para as crianças nesta fase inicial. Para que se realize esta aprendizagem é imprescindível fazer a transferência de unidades do oral para a escrita.
Numa primeira abordagem da língua é importante “brincar com os sons” de uma forma regular e sistemática para que os alunos descubram que os sons da fala são uma realidade do seu quotidiano, assumindo propriedades que a pouco e pouco vão conhecendo melhor.
A aquisição da consciência fonológica depende da tomada de consciência de que o contínuo sonoro é organizado em estruturas mais pequenas, nomeadamente frases e palavras. Assim, os alunos devem apreender a consciência de palavra e de sílaba, como unidade gramatical estruturadora do conhecimento fonológico, assumindo um papel fundamental na aquisição do mecanismo da leitura e da escrita.
Neste período é fundamental que a criança desenvolva um conjunto de capacidades de consciência fonológica, que vão ser determinantes no processo de decifração. São importantes os exercícios que permitem ao aluno produzir e detectar rimas; segmentar frases em palavras, segmentar palavras em sílabas, aglutinar sílabas formando palavras; manipular e substituir sílabas em palavras, suprimir e adicionar sílabas; identificar sílabas iguais, tanto no final como no início da palavra e associar sons a letras.
As estratégias a utilizar no ensino da decifração devem ter por base as características das crianças, o seu potencial lexical que trazem no início e o nível de consciência fonológica que já possuem.
A valorização das experiências e conhecimentos das crianças sobre a linguagem escrita é outro aspecto importante a ter em conta, pois é importante que percebam as funções da escrita, para que mais se esforcem em se apropriarem dela.